François Delahaye conta sobre o dia em que serviu à Rainha

De mordomo do Duque de Westminster a diretor-geral do Plaza Athénée e da Dorchester Collection, grupo de hotéis de luxo que detém também o Le Meurice, em Paris, e o The Lana em Dubai, François Delahaye narra o dia em que Elizabeth II agradeceu a ele em francês e o impacto deste momento em sua trajetória.

HPA-Francois-Delahaye-Executive-Director-HRDe mordomo do Duque de Westminster a diretor-geral do Plaza Athénée e da Dorchester Collection, François Delahaye narra o dia em que Elizabeth II agradeceu a ele em francês e o impacto deste momento em sua trajetória.

Sentado em uma poltrona no lobby do hotel Fasano, em São Paulo, Monsieur François Delahaye ficou surpreso com certa pergun- ta àquela altura da entrevista. “Ah, você sabe sobre a minha história?”. Diretor-geral do Hotel Plaza Athénée há 25 anos e também à frente da holding à qual pertence uma das joias de Paris, ele já havia expli- cado por que o grupo Dorchester Collection, que reúne em seu portfólio hotéis-palácio como o Plaza Athénée e o Le Meurice, escolhera Dubai para erguer o seu mais novo hotel de luxo, o The Lana. “Dubai tornou-se um hub com muitos hotéis, restaurantes, museus.

As pessoas querem ir a Dubai. Foram nossos clientes que nos levaram para lá”. Mas, na sequência das novidades, veio a provocação para que ele falasse de si. E que contasse os detalhes sobre o tempo em que foi mordomo do Duque de Westeminster, aos 18 anos, em um castelo na Inglaterra, onde teve a oportunidade de servir à rainha da Inglaterra, Elizabeth II. O episódio marcou sua vida e impactou sua trajetória na indústria da hospitalidade. A seguir, ele conta a sua história à Robb Report Brasil:

Um garçom e autoconfiança: 

“Quando eu era jovem, não era tão exímio estudante na escola. Na verdade, eu era um péssimo aluno. Minha mãe queria me ensinar senso de responsabilidade e de esforço. Ela não permitiu que eu tirasse férias no verão com meus irmãos. Tive que ir trabalhar na cozinha de restaurantes em Lile, onde eu nasci, na França. Ali, aprendi sobre a qualidade do trabalho. Lembro de um garçom que veio até mim e comentou: ‘Sabe, filho, o clien- te elogiou a maionese que você fez’. Naquela hora, me dei conta que nem mesmo meu pai ou mi- nha mãe, nem um professor, havia me dito que eu fazia algo de bom. Eu não estava focado. Não escrevia bem. Não confiava em mim. E aquele gar- çom me passou senso de autoconfiança. A men- sagem que quero compartilhar é que temos que encorajar as pessoas a fazerem coisas boas. A con- fiança delas aumenta. A autoconfiança é ágil. Mas, se você não confia em si mesmo, é muito difícil”.

“A rainha falava francês melhor do que eu” 

“Minha mãe me enviou para o norte da Inglaterra e me disse: ‘Você não pode ser um francês falando apenas francês, você precisa aprender inglês. Fiquei distante dos franceses para aprender o idioma. E aí, aos 18 anos, me tornei mordomo do duque de Westminster. Durante meu período no castelo em Chester, tive a sorte de estar presente no casamento da filha do duque com um primo da Rainha Elizabeth II. Eu era um jovem mordo- mo vestindo tuxedo (smoking), com uma bandeja de champanhes na mão, e eles estavam todos ao meu redor. A rainha Elizabeth chegou de carro, com a rainha mãe, as princesas Anne e Marga- reth. Mick Jagger chegou de helicóptero, com um terno rosa.

Aquilo me chocou, mas era o Mick Jagger, né? Após a cerimônia na igreja, as portas se abriram e a rainha aguardava a preparação para a foto oficial do casamento. Sou um homem de muita sorte. Imagina um jovem fran-cês ver a rainha. Você não pensa na rainha da Bélgica, da Suécia. Só existe uma rainha: Eliza- beth II. Eu apenas a tinha visto nas moedas, nos selos, nos jornais. E ela estava ali na minha frente. Eu me aproximei dela com uma bandeja com ta- ças de champanhe. Eu disse em inglês, com forte sotaque francês, ‘Majestade, a senhora gostaria de uma taça de champanhe?’ Ela sorriu e respon- deu em francês: ‘Oh, merci beaucoup, c’est très gentil’. A rainha falava a minha língua melhor do que eu. Fiquei embaraçado na hora. Mas foi uma grande momento na minha vida”. 

“Tenho prazer em servir” 

“Na minha indústria, uma qualidade específica é importante. Você precisa ter prazer em servir alguém. Mesmo agora, se alguém me pede uma dica de restaurante, tenho prazer em indicar. E me divirto com o momento em que alguém me pede um favor. No ramo da hospitalidade você precisa ter prazer em ajudar os outros. Tenho prazer em servir água a alguém, em ajudar. Em algumas culturas, pessoas são egoístas e não gostam de servir”.

Os 25 anos com Alain Ducasse 

“Fui responsável pelo contrato do chef Alain Du- casse no Plaza Athénée. Ele começou a trabalhar comigo em 1996. Nessa época eu era o gerente geral em outro hotel em Paris, onde o chef era o famoso Joel Robuchon (1945-2018). Uma vez ele me disse que um único chef poderia substi- tuí-lo: Alain Ducasse. Em 1999, cheguei ao Plaza Athénée e convidei Alain Ducasse para ir comigo. E nós trabalhamos por 25 anos. Até 11 anos atrás, quando fechamos o Plaza Athénée para reforma (reaberto em 2014), rsolvemos mudar o concei-to. Monsieur Ducasse decidiu ir para uma forma naturalista na sua gastronomia com o obje-tivo de ajudar a salvar o planeta. E deixamos de servir carne para os hóspedes. Passamos a servir peixes, vegetais e cereais. Mas os clientes não gostaram. Nós cometemos um erro. Porque você tem que dar o poder da escolha. A escolha é o luxo. Três anos atrás, eu decidi mudar. Com um chef bem mais jovem, Jean Imbert, estamos promovendo coisas novas no cardápio.